Ilha das cobras

Anderson Borba Ciola
Nicodemos Neves Sena Editora e Livraria - ME

60,00

Sob encomenda
0 dias


Ernest Hemingway dizia que um escritor não deve pedir a outro escritor que avalie sua obra. Se o texto for ruim ele não vai gostar porque o texto é ruim. Se for bom não vai gostar porque sentirá inveja. Não gosto do texto de Anderson Ciolla pelo segundo motivo. Razões não me faltam: A maior delas é a fluidez do texto, a elegância, o capricho na construção de cada parágrafo, na escolha de cada termo, na construção de cada metáfora, o cuidado com os detalhes, as inúmeras e saborosas referências e citações que, usadas com pertinência, passam longe do pedantismo. A construção de personagens ora profundos, ora cômicos, mas sempre coerentes. A crítica ferina, a ironia mordaz. Você pode ler Ilha das Cobras escutando calmamente a trilha sonora que costura as narrativas, a música onipresente nos relatos, enquanto assiste a shows, viagens e delírios de bandas de garagem num universo que mistura reflexões ao pop aos sonhos de juventude ao absurdo. Aproveite cada nota! Você também pode ler Ilha das Cobras desfrutando o prazer de odiar personagens tortos e trajetórias tortuosas, um desfile irônico de filhos da puta, alguns arquétipos da nossa sociedade, como Lobato, assunto controverso e espinhoso que Ciola não deixa de encarar. Ou de amar o desfile de bonecas russas que o autor esculpe com esmero. Leia Ilha das Cobras, mas não pretenda o início, o fim e o meio. Quando você acreditar que está lendo contos, estará lendo uma novela, e quando imaginar uma novela, estará lendo contos. Ou não! Simplesmente sinta o texto fluir como uma onda redonda, atente para a espuma se formando, para a transparência esverdeada da água refletindo sua imagem. Não espere que ela o leve à areia em segurança, pois justamente aí está o tesão de ler Ilha das Cobras. E por conseguinte a razão da minha inveja. (Alexandre Gennari)